Motoristas contestam Uber e 99: “o reajuste, além de ser insignificante, não aconteceu”
17/03/2022Aumentos de 6,5% por corrida e 5% por km foram prometidos pelos apps de transporte para mitigar alta dos combustíveis
Gabriela Moncau
Brasil de Fato | São Paulo (SP)
Depois de a Petrobras aumentar mais uma vez, agora em 19%, o preço da gasolina, a Uber e a 99 anunciaram reajustes no valor das corridas para reduzir o impacto no bolso dos motoristas. Estes, no entanto, alegam que a medida não aconteceu.
A 99 informou, por meio de nota, que reajustou em 5% o valor por quilômetro rodado. Segundo a empresa, o aumento deve entrar em vigor nas 1,6 mil cidades brasileiras onde atua e não impactará o preço pago por usuários.
Já a Uber prometeu um reajuste temporário de 6,5% por corrida. A plataforma afirmou, também, que “serão investidos cerca de R$100 milhões” em “iniciativas voltadas ao aumento nos ganhos e redução dos custos dos nossos parceiros”.
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De acordo com as gigantes do transporte individual por aplicativo, as medidas entrariam em vigor a partir da última segunda-feira (14).
Os condutores, por sua vez, além de considerarem insuficientes os acréscimos anunciados, dizem que o incremento nunca chegou.
“É uma verdadeira piada”
“O reajuste não aconteceu”, garante Luiz Corrêa, que trabalha como motorista da Uber e da 99 há cinco anos e preside o Sindicato dos Prestadores de Serviços Por Meio de Apps do Rio de Janeiro (Sindimob).
Segundo a Uber, o pacote anunciado faz parte de uma iniciativa “diante da instabilidade no cenário internacional causada pelo conflito no leste europeu” e a operacionalização do reajuste começou, mas a implementação pode levar alguns dias.
Ainda assim, na visão de Luiz, se o aumento efetivamente se concretizar, ele é insuficiente. “Para uma corrida de R$10, o aumento equivaleria a R$0,65. É insignificante. A gente teve duas altas nos combustíveis só este ano”, critica.
Desde janeiro de 2021, o preço da gasolina aumentou 13 vezes e do diesel, 11.
Para Vick Passos, motorista de app em Salvador há meia década, o reajuste anunciado pelas plataformas é “uma verdadeira piada”.
“Nós estamos atravessando os piores momentos da crise com a pandemia e agora com a guerra [na Ucrânia], que está afetando o preço dos combustíveis”, descreve Passos, que é também presidente da Cooperativa Mista de Motoristas e Mototaxistas da Bahia.
“Em todas as metrópoles do Brasil o serviço de transporte por app está falindo porque os motoristas não conseguem suprir as despesas com combustíveis, peças e acessórios”, narra.
“A quem vamos recorrer?”, questiona Vick Passos, ao desaprovar as medidas anunciadas pelas empresas e reforçar que os trabalhadores ainda não receberam nenhum centavo a mais. “Eles noticiam como se fosse uma melhora absurda para a categoria. Não é”, disse.
Na opinião de Passos, é urgente que as plataformas diminuam a porcentagem absorvida por elas a cada corrida. “Chegam a cobrar 40%”, expõe, ao provar com o print de uma viagem recente feita por ele na capital baiana.
Pagar para trabalhar
De acordo com o Sindimob, só na capital carioca, desde o ano passado, 35% dos motoristas de aplicativo deixaram o serviço por conta da inviabilidade financeira de manter o trabalho.
“Eu, com o carro quitado, já não estou mais conseguindo trabalhar. Estou a ponto de voltar para outro ramo de atividade porque aqui de fato não estão tendo mais condições de trabalho”, relata Corrêa.
“Como presidente de uma cooperativa”, diz Passos, “todos os dias recebo motoristas chorando, sem saber o que fazer, porque bateram o motor, o carro quebrou ou têm que pagar o aluguel do automóvel e não sabem como vão conseguir fazer as compras para sobreviver”.
Por melhores taxas e condições de trabalho, motoristas e entregadores de aplicativos estão preparando uma paralisação conjunta nacional a partir do dia 29 de março.